Filmes: O Médico e o Monstro (1931)

O MÉDICO E O MONSTRO

drjekyll-1931_3Título Original: Dr. Jekyll and Mr. Hyde
País: Estados Unidos
Ano: 1931
Duração: 98 min.
Direção: Rouben Mamoulian
Elenco: Fredric March, Miriam Hopkins, Rose Hobart, Holmes Herbert, Edgar Norton, Halliwell Hobbes, Tempe Pigott, Sam Harris, Tom London, Arnold Lucy, Murdock MacQuarrie, G.L. McDonnell, John Rogers, Douglas Walton, Eric Wilton.
Sinopse:
O cientista Henry Jekyll, fascinado pela dualidade entre o bem e o mal, desenvolve um elixir que o transforma num perigoso assassino, que passa a ser conhecido como Sr. Hyde, revelando o lado sombrio que se esconde dentro dele.

Estreando no mesmo ano de “Frankenstein” e “Dracula”, esta produção de Adolph Zukor (que aparece em pessoa na abertura do filme e também foi o produtor da versão de 1920) para a Paramount é a primeira versão sonora da história de Robert Louis Stevenson “The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde”, publicada em 1886. A versão silenciosa, de 1920, foi estrelada por John Barrymore e dirigida por John S. Robertson, mas este filme, produzido a poucos anos do advento do cinema sonoro, revela-se um excelente exercício, quer do realizador Rouben Mamoulian, quer do ator Fredric March, que acabou levando o Oscar de Melhor ator, mas tendo que dividir o prêmio com Wallace Beery devido à uma diferença de apenas um voto – o único empate até hoje nessa categoria. O diretor Rouben Mamoulian faz um trabalho memorável utilizando câmera subjetiva e close-ups para enfatizar as mudanças físicas e morais do protagonista, ajudado pela ótima fotografia do mestre Karl Struss. Esta versão esteve fora de circulação durante várias décadas depois que foi comprada pela MGM, que lançou sua própria versão da história em 1941, dirigida por Victor Fleming e com Spencer Tracy no papel principal, e só foi redescoberta na década de 70.

Um grande clássico sobre a dualidade da alma humana

“O Médico e o Monstro”, desde que foi publicado pela primeira vez, se tornou em pouco tempo um dos grandes clássicos da literatura, simbolizando a dualidade entre o bem e o mal de todo o ser humano. Este filme de Rouben Mamoulian – um dos mais talentosos e perfeccionistas cineastas que já passaram por Hollywood – impressiona pela fotografia de Karl Struss e pela antológica caracterização do ator Fredric March, o que lhe ajudou a vencer o Oscar naquele ano, embora tivesse que dividir o prêmio com Wallace Beery (“O Campeão”), até hoje o único empate nessa categoria. A diferença entre eles foi de apenas um voto, o que até então estabelecia o empate na categoria.

Rouben Mamoulian foi um cineasta formado dentro dos estúdios, e desde muito jovem aprendera vários dos ofícios principais, em especial o cuidado com a iluminação, a edição e a fotografia, tendo desenvolvido grande cuidado com os enquadramentos e gosto pelos movimentos de câmera. Mamoulian já tinha provado antes, nomeadamente com “Applause” e “City Streets”, que o som não limitava a sua criatividade e volta a prová-lo em “O Médico e o Monstro”. Do trabalho do realizador neste filme em especial sobressai, essencialmente, a fluidez da câmera, com especial destaque para os close-ups e a câmera subjetiva, que parecem perfeitos para a duplicidade do personagem principal. Muito do interesse do filme está, também, no trabalho de Fredric March, que interpreta dois personagens completamente opostos. A sua interpretação é de tal forma intensa que o ator esteve à beira de um colapso físico.

A equipe de maquiagem da Paramount construiu uma prótese que dava ao personagem do Sr. Hyde um aspecto Neanderthal, mas os efeitos de maquiagem eram tão pesados que chegavam a causar ferimentos no rosto do ator Fredric March. As cenas de transformação de Jekyll para Hyde continuam notáveis. Mamoulian usou de muita criatividade e inventou uma técnica particular que mostrava as mudanças do personagem através da manipulação de uma série de filtros de várias cores na frente da lente da câmara. Por conta disso, a maquiagem de Fredric March como Hyde era em várias cores, e de uma forma que a sua aparição no filme dependia de qual cor de filtro estava sendo usada para filmar cada uma das cenas. Durante a primeira cena da transformação, os ruídos que acompanham a trilha sonora incluem um sino soando ao fundo e supostamente uma gravação com a batida do coração do diretor Rouben Mamoulian. Foi somente no final da década de 60 que Mamoulian revelou como esses efeitos haviam sido produzidos.

A despeito da sua atuação magistral, o ator Fredric March nunca foi a primeira escolha. John Barrymore, que interpretou o protagonista na versão silenciosa de 1920 chegou a ser convidado para o filme, mas recusou. O chefe do estúdio Adolph Zukor queria Irving Pichel – ator de pouca experiência até então e que atuaria e dirigiria diversos filmes B nas décadas seguintes. Mamoulian recusou por querer um ator que pudesse convencer nos dois papéis e achava que Pichel não poderia atuar como Hyde. Foi Mamoulian quem surgiu com o nome de Fredric March, contra a vontade de Zukor, que alegava que o ator – que vinha de papéis menores e personagens leves – não possuía experiência suficiente para interpretar um vilão como Hyde. A escolha de Mamoulian mostrou-se mais do que acertada e March não só provou que era perfeito para o papel. O Oscar que ele ganhou fez seu nome ser levado mais a sério em Hollywood e aumentou a oferta de bons papéis.

Curiosamente, os personagens de Muriel Carew e seu pai não aparecem no romance de Robert Louis Stevenson. Ambos são baseados em personagens similares criados pelo dramaturgo T.R. Sullivan para a sua versão para os palcos de 1887. A atriz Miriam Hopkins inicialmente recusou o papel de Ivy Pearson, alegando que ela queria mesmo interpretar Muriel Carew. Hopkins acabou convencida a aceitar viver Ivy quando foi informada pelo diretor que diversas outras atrizes estavam disputando aquele papel. Rose Hobart acabou ficando com o papel de Muriel. Infelizmente, a personagem de Hopkins acabou sendo prejudicada na narrativa e diversas de suas cenas tiveram que ser removidas. “O Médico e o Monstro” não escapou do famigerado Código Hays, que restringia diversos aspectos morais, sexuais ou legais nos filmes produzidos no período de sua vigência. Através de seu secretário Will H. Hays, o chefe do estúdio B.P. Schulberg foi advertido a suprimir cenas ou modificar várias linhas de diálogo por serem, segundo o próprio, “muito sugestivas”: o diálogo entre Ivy e Hyde, quando ela diz “Take me!” e ele responde “I am going to take you”. O mesmo valeu para a cena em que Hyde faz observações à liga usada por ela, fazendo referência à forma como apertavam (no original) sua carne macia e bonita (“It will bruise your pretty tender flesh”), bem como a cena em que Ivy se despe diante de Hyde. Feitas essas alterações e supressões, o filme estreou em junho de 1935 com enorme sucesso.

Em 1941 a Metro-Goldwyn-Mayer produziu uma nova versão da história de Robert Louis Stevenson, com Spencer Tracy como protagonista e direção de Victor Fleming, e tendo comprado esta versão de “O Médico e o Monstro”, o estúdio a retirou de circulação. O filme de Mamoulian ressurgiu somente nos anos 70 numa versão censurada, que tinha sido produzida para o relançamento do filme em 1938. A atual edição em vídeo o restaurou à sua versão original, com diversas cenas que se pensavam desaparecidas.

IMDb: http://www.imdb.com/title/tt0022835/

A Cena da Transformação:

Galeria de Fotos:

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